SMART CITIES, TECNOLOGIA E A INTEGRAÇÃO DE IMIGRANTES: DESAFIOS E OPORTUNIDADES

A importância do aprofundamento da discussão entre o nexo smart cities e migração será essencial para promover melhor qualidade de vida também para os migrantes.

Os debates em torno das smart cities (cidades inteligentes) alternam sobre as suas vantagens e benefícios para a população e as problemáticas de implementação. Nos termos que se impõem, o conceito de smart cities pode parecer utópico relacionado a soluções de tecnologia numa política urbana de transformação de “cidade do futuro” presente no imaginário de muitos. Para este texto, as smart cities devem ir além, consideradas como um conjunto de medidas possíveis e soluções criativas nas cidades utilizando tecnologia a favor da comunidade e, por conseguinte, da defesa e promoção dos seus direitos no ambiente urbano.

Primeiro, é importante demarcar que as cidades e seus agentes de transformação (autarcas, cidadãos) são relevantes no palco nacional e internacional para conduzir à resolução dos problemas mais urgentes da atualidade, incluindo mudanças climáticas, injustiça social, migração e preocupações com os direitos humanos.

De modo geral, as smart cities têm potencial para atrair atividades económicas rentáveis e promover a utilização eficiente e a conservação dos recursos naturais. Além disso, as estratégias das smart cities podem ser efetivamente utilizadas em espaços urbanos para antecipar, abordar e/ou mitigar riscos, ameaças, desafios nascentes e, assim, contribuir para o bem-estar dos habitantes das cidades.

O desenvolvimento de smart cities tornou-se uma prioridade para muitos países desenvolvidos e proporcionam lugares com melhores serviços, um ambiente inovador e mais empregos. Consequentemente, tornaram-se destinos poderosos que atraem pessoas para aí viverem, procurando os seus benefícios sociais e económicos.

 Isto é, a princípio, muito animador. Mas é preciso considerar que as cidades impõem desafios e complexidades particulares.  No centro do debate político, os fluxos migratórios desencadeiam uma série de problemáticas nos espaços urbanos como os obstáculos em torno da integração e acolhimento. Além da migração interna de jovens, pessoas de outras regiões dos países, as smart cities também atraem muitos migrantes externos.

Apesar disso, curiosamente, o nexo smart cities – migração não costuma ser explorado com frequência, mas desta ligação podem-se retirar inúmeras perspectivas multidisciplinares. Uma delas é o facto de que a relação entre as smart cities e a migração emergem na intersecção com os avanços nas tecnologias de informação e comunicação e a melhoria de estratégias para integração e acolhimento dos migrantes.

O que une ambos os termos é o reconhecimento de que as smart cities com as suas ferramentas e abordagens – se utilizadas de formas social e eticamente responsáveis – podem permitir enfrentar eficazmente os desafios que as cidades enfrentam no acolhimento e integração de migrantes.

No âmbito destas perspetivas pode-se falar no cruzamento das smart cities e os critérios de inclusão, prosperidade e bem-estar. Uma das dimensões do índice de cidades inteligentes é a inclusão que analisa coesão social, diversidade cultural, empreendedorismo, inovação social e inclusão digital ao nível dos serviços de saúde, segurança, educação, cultura e turismo.

A questão que se coloca aqui será: de qual forma as smart cities por meio de políticas urbanas e práticas criativas podem contribuir para a integração, inclusão e acolhimento dos migrantes?

Assim como outras dimensões que as smart cities buscam solucionar, a migração deve ser enfrentada associada com a gestão da diversidade e do multiculturalismo. As smart cities podem oferecer ferramentas digitais, tais como portais e aplicações para melhorar o acesso aos serviços públicos, a capacidade de resposta, compreender as necessidades das populações migrantes e fornecer plataformas para um envolvimento cívico mais profundo.

Os migrantes recém-chegados são alguns dos mais vulneráveis da sociedade e necessitam de apoio para se instalarem e obterem informação sobre serviços e empregos locais. Este grupo, no entanto, para além de excluído socialmente, também o é digitalmente. Há uma grande lacuna no acesso, utilização, e conhecimento ou competências para utilizar as tecnologias de informação e comunicação. O paradoxo reside no facto de que os migrantes que muito poderiam se beneficiar das iniciativas digitais, têm menos probabilidades de ter acesso aos serviços digitais. Numa era em que a ligação ao mundo digital é uma componente cada vez mais vital para a integração social, os governos começam a desenvolver formas de colmatar a clivagem digital e permitir que os grupos vulneráveis tirem pleno partido das novas tecnologias.

A utilização de ferramentas digitais para a integração e inclusão digital podem afetar positivamente os migrantes. Até agora, algumas cidades como Nova York, Londres e Barcelona desenvolveram estratégias de inclusão digital destinadas a ajudar os esforços de integração dos migrantes, quais sejam: fornecimento público de WiFi, parcerias comunitárias e público-privadas para formação em competências digitais e melhorias no acesso digital, portal de idiomas, programa de comunidades conectadas.

Embora muitas iniciativas se encontrem nas fases iniciais de desenvolvimento e algumas ainda estejam longe de responder adequadamente às necessidades dos imigrantes, estes já são passos importantes para abrir caminho para o progresso futuro neste campo. Neste sentido, a implementação de smart cities pode ser uma grande aliada na interação social complexa entre governo, migrantes, cidadãos, no desenvolvimento de soluções de integração e acolhimento.

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